segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Lidando com perdas.

Ensinar crianças a lidar com perdas. Difícil. Ainda mais para mim, na minha família explicar a morte para uma criança nunca foi uma preocupação. Era básicamente assim: fulano morreu, guarde seus brinquedos que temos um velório para ir. Sério. Eu achava muito chato mas ao mesmo tempo encontrava outros primos e brincavamos de pega pga no cemitério e o passeio ficava legal.

Duas mortes na minha infância marcram muito. Um tio muito querido e um prima.

O meu tio estava internado e lembro dele passando na maca e ele me chamou. Em seguida o médico veio e deu a notícia do falecimento. A família toda em choque todo mundo chorando e eu ali, assutada sem entender nada. Eu gostava muito desse tio. Nesse velório que não quis brincar, estava triste. Não tive coragem de ver o caixão. Lembro até hoje da expressão da minha tia chorando. Eu tinha 4 anos.

Dois anos depois, Natalia faleceu. Ela nasceu com paralisia cerebral devido a uma rubéola que a minha prima pegou durante a gravidez. Eu ama demais essa prima. Ela não se mexia muito, não falava, demandava uma atenção extrema. Eu vibrava com cada conquista dela. Quando ela morreu simplesmente me levaram, junto com os primos para casa da minha prima, para esperar o horário do velório. Lembro quando deram a notícia para minha madrinha. Sai correndo.

Nesse velório eu não quiz brincar. Eu não via a hora de ir embora. Eu queria saber por que tinha algodão no nariz dela. Disseram que sem o algodão ia começar a vazar água. CREDO! Mas dessa vez eu não queria sair de perto do caixão. Minha prima começou a gritar na hora de fechar o caixão. Eu tentei sair correndo mas a confusão era tão grande que fiquei presa. Parecia um pesadelo.

Nunca mais fui em velórios. Até minha cunhada falecer (essa semana falo sobre isso).

O Bruno perdeu a bisávo (mãe do avó dele) e tia-avó(irmã do avó dele). A bisa foi para o céu primeiro. Não segui a tradição da minha família. Sentamos e conversamos com ele. Ele não sentiu muita falta, mal tinha contato. Não levamos em velório nem enterro, nem missa. Quando a tia morreu, conversamos de novo. Explicamos que a tia foi morar com a bisa. Da tia ele sente falta até hoje. Perguntou no aniversário se ela podia vir.

O Bruno ainda não sabe bem o que é perda. Assistimos Kung Panda e na hora ue Po é deixado na porta do ganso, ele esta chorando. Bruno perguntou o motivo. Disse que era saudade da mamãe dele que tinha morrido. Ele me olhou e disse: se você morrer vou chorar todo dia. Prometi que não ia morrer. Eu sei que fiz errado.

Se nem eu sei lidar com a perda como ensinar ao meu filho?

Essa semana toda estarei em clima Mamatraca falando sobre as minhas perdas.


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